terça-feira, 25 de julho de 2023

Um claustro renovado

Dou agora continuidade às publicações mais específicas sobre o convento da Ordem dos Pregadores da cidade do Porto. Desta vez, viajamos ao meado do século XVII.

No ano de 1676 os conventuais tomaram a decisão de renovar o claustro do convento. Não é certo se ela surge da emergência da ruína daquele espaço, se pura e simples renovação estilística que tantos monumentos medievais nos levou. Dois anos depois e com o prosseguir dos trabalhos, torna-se necessário alterar a fachada - por assim dizer -  de uma capela situada naquele espaço; modificação que foi contratualizada com os seus administradores.



Claustro do mosteiro de Santo Tirso, reminiscência medieval deste mosteiro. Seria este o aspeto do claustro dominicano portuense?


Assim, em 23 de junho de 1678, sendo prior Fr. Tomás Pereira, o convento ajustou o consentimento dos padroeiros, senhores e administradores da «capela de Nossa Senhora da Assunção sita no claustro do dito convento para a banda do sul a qual tem sua porta e duas janelas uma de cada banda e porque eles reverendos padres de presente andam fazendo as obras do dito claustro lhes era muito necessário o mudar a porta da dita capela porque um lanço da dita obra vem a contestar na dita porta e por se não poder fazer de outro modo mandaram pedir licença aos ditos possuidores (...) para mudarem a dita porta». Os administradores da capela eram Henrique Henriques e sua esposa, no entanto quem esteve presente na assinatura do documento, foi o seu filho como procurador.

O documento obrigava os padres «a mudar a porta da dita capela para o lugar onde está a janela que fica para o poente junto à casa da adega em lugar da dita janela ficará a porta que será feita com a mesma pedraria que tem e do mesmo alto e largura sem acrescentar nem diminuir cousa alguma e feita com a precisão necessária assim como de presente está e a outra janela que fica partindo com a casa do capítulo ficará aberta assim como está e esteve até agora e que não poderão bulir no altar nem no carneiro nem cousa alguma da dita capela mais que como dito fica mudar a dita porta para o lugar da dita janela».



Excerto de uma planta de 1845, onde assinalo o lanço sul do claustro (G), o H da direita assinala a antiga casa do capítulo, que também incorporava uma capela (AHMP)


Pelo segundo trecho do contrato depreende-se que a capela estaria no lanço sul do claustro, e que a arquitetura da nova estrutura implicaria arcaria mais larga do que o anterior. O claustro novo que se construía no final de Seiscentos, seria possivelmente de arquitetura simples, sem grande arte; a contrastar com o medieval, construído no período da nossa arquitetura gótica.


Termino com uma imagem misteriosa (ao lado). Trata-se de um arco que se encontrava num quintal de uma das casas da rua do 'Comércio do Porto' e que esteve décadas exposto no antigo museu de Etnologia e História, a Belomonte. Sem dúvida pertencente a um claustro medieval, ele terá vindo de um dos conventos mais próximos àquela rua. Mas qual? S. Franciscano, cujo claustro medieval foi destruído na segunda metade do século XVIII, ou S. Domingos, destruído em 1677/78?

Duas aduelas desta peça museológica encontram-se hoje expostas no Reservatório. Neste espaço do Museu da Cidade encontra-se também um interessante capitel de sabor nitidamente medieval. Será o que Soares de Oliveira referiu no seu trabalho sobre S. Domingos do Porto*; que o autor não teve tempo de verificar por ter falecido entretanto? Serão um ou outro ou um e outro, sobrevivências únicas do claustro dominicano?

Viriato


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* publicado postumamente no Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto, em 1952.

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