No meado do século XIX, o sistema de ataque aos incêndios na cidade do Porto regia-se ainda pelos rudimentares toques dos sinos das igrejas. Dependendo do local onde ocorria o sinistro, determinada igreja tocava uma quantidade estipulada de badaladas. Por sua vez existiam, desde 1853 e em todos os pontos onde se deveriam tocar os sinos, pequenas caixas de metal que identificavam a quantidade de badaladas, associando-as a determinado local. As chaves das caixas eram detidas pelos bombeiros municipais, que abrindo-as tinham acesso ao fio que subia dentro do cano de ferro que o protegia até ao sino. Cinco delas ainda hoje subsistem. Outras, como a que apresento abaixo numa imagem da igreja de Santo Ildefonso, há muito foram retiradas.
Os toques, conforme se podem consultar por exemplo nos Almanaks da época, eram assim distribuídos: 10 badaladas tocavam-se na igreja da Sé, estando de guarda a estação do largo da Sé, a igreja do Colégio, mesma estação, igreja de Santa Clara, ocorria a bomba da Casa Pia, igreja do Terço, mesma bomba, S. Bento das Freiras, ativava a bomba do Paço do Concelho e por fim a igreja da Misericórdia a bomba da Caixa FIlial do Banco de Lisboa, a S. Domingos. 11 badaladas eram tocadas nas igrejas de Santo Ildefonso estação da Casa Pia, igreja de Santa Catarina (capela das Almas?), ativava a estação da Praça do Bolhão, da Trindade a mesma estação e a das Órfãs de S. Lázaro ativava uma bomba que estava no jardim do mesmo nome. 12 badaladas era exclusivo da igreja do Bonfim, ativando a bomba do largo do mesmo nome; 13 ativava a bomba estacionada no largo do Priorado, igreja da Lapa a do Quartel de Santo Ovídio e a igreja do Carmo a bomba da Polícia Municipal, estacionada no Carmo. A igreja da Vitória, Taipas e Clérigos, dariam 14 badaladas, ativando a bomba da Cadeia as duas primeiras, e a que se encontrava na Praça do Anjo, a terceira. Com 15 badaladas temos as igrejas de S. Nicolau, S. Francisco e S. João Novo, que ativavam respetivamente as bombas da Alfândega, do Banco Comercial (a Ferreira Borges) e a do Tribunal da Justiça, a S. João Novo. Vamos agora às badaladas que correspondem a apenas uma igreja/uma estação, pelo que temos: igreja de Miragaia com 16 badaladas (estação da Porta Nobre), de Massarelos com 17 (estação do Cais Novo). Para a igreja de Campanhã (18 badaladas), Paranhos (19), Lordelo (20), Foz (21) e Vila Nova (22); não há indicação das bombas. E não era raro existir um incêndio em Vila Nova, a que respondiam mais de uma bomba, sendo que apenas uma, a primeira a chegar, ganhava o prémio... Mas este pormenor, embora nos choque, era já um avanço em relação à época anterior. Por exemplo, ainda em 1845, como tive oportunidade de comprovar no jornal O Nacional de 22 de agosto, quando deflagrava um incêndio várias igrejas tocavam ao mesmo tempo, apenas contribuindo para a confusão e consequentemente para o retardar do auxílio.
Um outro curioso dado que nos dá, neste caso, o Almanak para o ano de 1866-67 (publicado em 1865), é o dos sinais que se faziam na torre do Palácio da Bolsa no intuito de alertar para quais os vapores que se encontravam na barra. Os sinais distribuem-se da seguinte forma:
Um vapor ao norte – galhardete azul
Dois vapores ao norte – galhardete azul e balão por cima
Três ou mais vapores ao norte – galhardete azul e balão por cima*
Um vapor ao sul – Galhardete vermelho
Dois ditos ao sul – galhardete vermelho com balão por cima
Três ou mais vapores ao sul – galhardete vermelho e balão por baixo
Dois vapores ao norte e ao sul – Galhardete azul e Galhardete vermelho
Três vapores ao norte e ao sul - Galhardete azul e Galhardete vermelho, e balão ao meio.
Entrou o vapor do sul – Galhardete vermelho e branco
Entrou o vapor do norte – Galhardete azul e branco
Saiu um vapor português – galhardete vermelho, e Galhardete azul e branco por baixo
Saíram dois vapores portugueses – Galhardete vermelho, e galhardete azul e balão por cima
Saiu um vapor estrangeiro – Galhardete azul e galhardete vermelho e branco
Saíram dois vapores estrangeiros – galhardete azul e galhardete vermelho e branco e balão ao centro
Notas: O galhardete azul designava o norte e o vermelho o sul.
(* creio que será lapso por baixo, cf. vapores ao sul)
Ficam assim apresentados, caro leitor, e sem pretensões a historiador, dois pequenos apontamentos que podemos descobrir quando mergulhamos na consulta de periódicos e outras publicações de igual modo interessantes e importantes, para se compor a imagem do Porto de oitocentos.
Viriato
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