Fui hoje à baixa, ao local onde costumo passar muitos dias das minhas férias: no arquivo histórico portuense. À hora do almoço lá fui ver como andavam as obras no edifício onde me fiz menino. Claro, o edifício propriamente dito já não existe. Esse, erguido em 1873, foi deitado abaixo em 2020. No seu local nasceu um novo que parece o mesmo, mas não é. Seguramente este também se desenvolverá para albergar novas vidas, criar novas memórias... Embora eu creia que durante umas décadas será apenas um depósito de corpos que ali repousam à noite, depois de passarem alguns dias a ver tudo o que é very typical... mas como tudo passa e atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão de vir, o edifício ali estará quando for de novo realmente habitado. Curiosamente, o proprietário manteve a mesma volumetria do edifício anterior, tendo mesmo recuperado a balaustrada do terceiro andar (deve ser uma nova, embora fosse muito interessante se se tratasse da original, embutida no reboco que no edifício anterior cedo fechou aquela varanda). Até as novas águas furtadas - que não se vêem da rua - mantêm sensivelmente a mesma volumetria das originais. Essas, as originais, pensadas talvez para arrumos e alojamento dos criados da casa, foram habitação para pelo menos um casal: os meus avós!
terça-feira, 13 de junho de 2023
Setenta e seis, quarto andar
A imagem da dir. mostra o edifício onde cresci. A imagem à esq. o edifício onde se localizava a mercearia Porta Nova.
Ao seu lado encontra-se uma outra casa. Ou melhor, a casa já se foi; está em ruína pois um incêndio destruiu-a completamente em 2019. Do seu interior recolhi um par de fotos onde captei pormenores históricos interessantes. Para esta publicação utilizo uma delas, simbólica de uma memória que tenho dos tempos mais maravilhosos da minha vida: os da meninice; vida alegre, solta e livre, no dizer de um autor seiscentista.
Como se vê a casa já não existe. Ficaram apenas o seu chão e paredes. Mas nesta casa existiu um negócio durante várias décadas. Falo da mercearia do sr. Alexandre, que tinha o bonito nome de Porta Nova, por ter ali existido uma porta da muralha "fernandina". Não sendo muito de choraminguices, não deixou contudo o meu coração de chorar quando constatei que, praticamente intacto, ali estava o chão da mercearia do sr. Alexandre, que eu algumas vezes pisei a mando da minha avó.
Por vezes acho que a parte do mundo material responsável pela nossa saudade deveria também ele desaparecer. Talvez assim fosse mais fácil fugir-lhe...
Viriato
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