Esta pouco conhecida capela que se encontra no claustro da Sé portuense, foi erguida no século XIV e possuí no seu interior um bonito túmulo de arquitetura gótica. Já muito maltratado pelo tempo, nele jaz João Anes Gordo, almoxarife real e juiz do mar ao tempo de D. Dinis, falecido em 1333. A própria estrutura da capela também se encontra bastante maltratada, uma vez que a construção no século XVIII da casa capitular lhe amputou abóbadas, cegou frestas, entre outras sevícias... Permanece, ainda assim, uma bonita relíquia do período medieval portuense.
Magalhães Basto, num pequeno artigo em que pela primeira vez surge bem atribuída a origem desta capela, cita um manuscrito de 1577, do Cabido episcopal portuense, que refere: « (...) o qual João Gordo instituiu a capela de S. João onde jaz sepultado em uma sepultura de pedra da Batalha, que está à porta travessa da crasta desta Sé do Porto defronte do púlpito encostada à parede da dita crasta da parte de fora pegada com o alpendre da primeira porta das casas do bispo (...)».
Como vemos, a configuração do local era bastante diferente da atual, assim permanecendo por mais uns largos anos, até à construção do novo edifício do Cabido, que atrás referi.
Para a sua história, deixo um apontamento pouco ou mesmo nada conhecido, retirado de um jornal de 1845; reportando a um sinistro que ali teve lugar: «Esta madrugada pelas 3 horas e meia deram sinal de rebate os sinos. Foi numa antiga capela, hoje loja de madeireiro, nos baixos da casa capitular da Sé: foi apegado por descuido de um oficial que havia ali feito a comida (...) Nessa loja existe um antigo sepulcro com uma estátua de pedra. O edifício capitular esteve em perigo iminente de se incendiar, apesar de ser de abobada a loja.»
Por chocante que nos possa parecer o tipo de uso dado à capela, devemos ter presente que nos encontramos ainda na primeira metade do século XIX, onde a interiorização do valor cultural dos monumentos só agora vai lentamente sedimentando, na mentalidade coletiva. Comparemos, por exemplo, com a polémica da demolição ou não (felizmente não!) da cabeceira da igreja conventual franciscana, só dez anos antes, e que esteve por um triz...
Viriato
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FONTES: Silva de História e Arte: Notícias Portucalenses, por Artur de Magalhães Basto (1945) e o periódico O Cosmopolita de 15 de maio de 1845 : IMAGEM: https://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/262296/
Publicação das mais antigas que existiam n' A Porta Nobre, foi agora recuperada e melhorada.
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